terça-feira, 22 de abril de 2014

Frankenstein

E se não tiver pra onde fugir
(será que esse dia vai chegar?)
Se um dia tiver que reagir
(foi sempre ensinado a se curvar)
Na sua torre, sereno, a descansar
(fecha os olhos ao ver tudo desmoronar)
E quando um "desses" te alcançar
(pode ser tarde pra querer mudar)

Dificil de explicar, quando não há nada aqui
Mais fácil aceitar e não se ferir

Não há erro se o erro é o outro
Não há nada de ser desigual
Não quer seu dinheiro no bolso
da sua cria, seu marginal

Dificil de explicar, quando já está aqui
Mais fácil remediar, executar e reprimir


Se engana com véu, capa e preconceito
E do condomínio, acha que tudo bem
Cave sua cova com autoridade de quem pode e tem

Mas tome cuidado ao sair
Seu mundo é frágil e pode se quebrar
A criatura que você criou o sonda
pra tomar o que quer e não pode pagar.

João e Maria

João sai para trabalhar
Maria também vai
Lavar, passar e cozinhar.

A condução lotada
até ai tudo normal
E quando menos se espera
um trombadinha faz geral.

Dignidade e respeito é o que resta
Mas como respeitar, se o errado é você
Não é magro, lindo, branco, rico
Heterossexual, como os que passam na tv

{É como o sol, que não quer se pôr
E a noite vem com a escuridão, e o bota pra dormir.
Mas no amanhecer, espera-se outra chance
de nadar contra a maré, e um dia poder sorrir.}

E João volta para casa, Maria também.
Os dois sem ter o que comer, os dois sem ter outra opção.
E tantos com coragem, fazendo a vida na esquina.
Não existe sonho ou sorte, existe medo e solidão.

Dignidade e respeito é o que resta
Mesmo que sem ganhar, mesmo que até perder
É preto, gay, é feio e pobre
E a luta sempre continua, há sempre que amanhecer.

{É como o sol, que não quer se pôr
E a noite vem com a escuridão, e o bota pra dormir.
Mas no amanhecer, espera-se outra chance
de nadar contra a maré, e um dia poder sorrir.}